26 agosto 2013

Memórias sobre a rosa, o cálice e o livro



    Nossas memórias quem há de levar, ter uma lembrança tão viva de nós, sentir o que sentimos, chorar as lágrimas que choramos, conviver com as chances perdidas, desejar e ter enfim.
    Nossas memórias quem há de cantar, sorrir nas derrotas, se envergonhar de certas vitórias; um gosto amargo assim, um sentimento estranho. Existe uma rosa que você tenta arrancar a pétala e ela vem com raiz e tudo. Nem tudo é assim tão superficial.
    Você pode se ferir com espinhos, mas não vai querer largá-la. Sim, é a mesma força que você usa para tentar arrancar da alma as marcas daquilo que ainda não percebeu que te marcou. Não vai poder apagá-las, já fazem parte de você.


    Logo descobrimos que as pétalas não importam mais, o que você sente é muito mais profundo. E você arriscou relembrar alguém, já sente o que ele sente, ele exala seu aroma. Agora são apenas um. E as memórias se confundem.
   As suas memórias já posso recordar, já sei me desviar de todos os espinhos. Posso me orgulhar sem transbordar o cálice do vinho, com lágrimas que jamais foram minhas.


    Suas memórias estão no livro que ainda tem páginas em branco, pois com nenhum apelo somos capazes de escrever o final. As suas, as minhas, as nossas memórias; a rosa, o cálice, o livro; os espinhos, o vinho e as páginas. Sim as páginas sujas de sangue por culpa dos espinhos. E o vinho tão fraco, facilmente explicável.





25 agosto 2013

Oceano Vermelho



Em meu sonho também era noite, gostava de caminhar tendo por companhia o som das ondas do mar, mas chocado fiquei, antes mesmo de encará-lo, num relance, e ao fazê-lo vi um Oceano Vermelho.



Nada entendi, mas também não buscava respostas, pois até as perguntas eram ilógicas. Parecia sangue, uma imensidão escarlate que nem a escuridão da noite podia impedir ...notar.
Pensei, sem então medir absurdos, já que meus olhos não viam o mar azul do cartão postal, nem o mar verde da pequena 'Angra' de meus pais, ponderei: tenho que tocar essas águas para que eu possa completamente me enganar, afinal o 'normal' já era um veleiro distante no horizonte do mar.
O primeiro toque não me proporcionou repulsa, não era mais algo que me impelia afastar, eu sentia sim, era a água mais pura que eu tinha tocado, sentia como se me aproximasse de onde jamais deveria ter me afastado. Mergulhei por fim, sonho não era mais sonho, só importava como eu me sentia... puro, livre, pronto, renascido. Já vivia esse sonho, sentia o clima, olhava para lua. Era vívido, só não podia acreditar em uma coisa: como minhas culpas, meus ressentimentos meus rancores não submergiram junto comigo daquelas águas. Águas vermelhas, sangue, só me perguntava de quem era aquele sangue. Até que uma voz retumbante, mas de tom fraterno disse: Traga outros, diga a eles o que esse sangue faz, diga como você se sente... compartilhe.
Era inacreditável, surreal. Entendi claramente que o dono daquele sangue se sacrificou, pois assim poderia salvar quem nele se banhasse. Obedeci a sua voz, questionando o valor de seu sacrifício, pois antes mesmo de alguém considerá-lo e aceitá-lo já estava derramado um oceano vermelho.

(...)

De fato, segundo a Lei, quase todas as coisas são purificadas com sangue, e sem derramamento de sangue não há perdão. ( Hebreus 9:22 )

“…a igreja de Deus, que ele comprou com o seu próprio sangue”.
( Atos 20.28b )

“Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos pecados de todo o mundo”.
( I João 2.2 )

24 agosto 2013

Um conto sobre Olhos


Certo dia, em uma manhã quando eu caminhava em uma calçada de uma rua encontrei um par de olhos no chão. Parei, fiquei estatelada ao encontrar um par de olhos no chão de uma calçada, olhei fixamente para eles e naquele mesmo instante me apaixonei, peguei-os em minhas mãos e os levei para minha casa, no caminho quase sempre tropeçava, não conseguia deixar de olhar aquele par de olhos.

Quando cheguei a casa fui logo para o quarto e com todo o cuidado os coloquei na cabeceira da minha cama, fiquei ali a tarde toda olhando aquele par de olhos, até que peguei no sono. No instante em que acordei não fiz outra coisa a não ser olhar-los. Todos os dias eu chegava atrasada no trabalho, porque perdia a hora parada olhando o par de olhos. Voltava do trabalho não falava com ninguém em casa, já ia para o quarto me encontrar com ele e ali eu ficava os olhando, quase nem piscava, não queria perder um segundo sem olhar para ele e quando estava longe só pensava nele.

Até que um dia quando cheguei a casa, os olhei e vi que estavam tristes, fiquei intrigada com aquilo então fiquei os olhando e eles me olhavam tristes até que peguei no sono. Tive um sonho e neste sonho o par de olhos encontrava o seu dono, despertei num susto, daí logo comecei a agir para encontrar o seu dono. Coloquei anúncios em jornais, site de relacionamentos, na TV, onde pudesse.

Numa manhã minha campainha tocou e quando fui atender vi que era L, que logo me perguntou: “Você está com eles?”. Quando eu o olhei vi que estava sem seus olhos e lembrei que quando eu o conheci naquele mesmo dia que encontrei o par de olhos na calçada, vi nele os olhos mais lindos de toda a minha vida. Fui ao quarto buscar seus olhos, os coloquei em seu rosto. Não consegui parar de olhar o seu rosto, até que ele me chamou a atenção dizendo que queria me agradecer por eu ter encontrado e cuidado de seus olhos e eu disse: “Não foi por nada!”, ele virou as costas e se foi.


No momento em que chegou ao portão virou novamente em minha direção, veio caminhando na minha direção, isso mesmo, na minha direção, parou em minha frente tirou os seus olhos, pegou a minha mão os pôs nela e me disse: “Eles sempre foram seus.” e se foi. Corri até o portão com os olhos nas mãos, gritei: “Volte aqui, volte!”.  Ele parou fui até ele e disse: “Os olhos são o espelho da alma.”. Coloquei seus olhos de volta em seu lindo rosto e ali fiquei olhando até o momento em que ele me interrompeu e me disse: “Como será daqui por diante se os meus olhos são seus, eles não sabem viver sem te olhar?” e no mesmo instante respondi: “Fique.”.

23 agosto 2013

O anonimato dos que continuam



Por vezes me pergunto: como é a terra que sofre a consequência da incredulidade dos homens, quando deixam de acreditar até no que sentem.
Algumas pessoas diante 'do que lhes fere' se tornam insensíveis e perdem a sua fé. Insensíveis porque para que não sintam a dor da perda, preferem não sentir nada e continuam assim; não se importando se deixaram para trás alguém com algumas lágrimas, afinal seria um paradoxo. Para outros, felizmente é diferente, quando mesmo em meio a sua dor se importam com quem fica para trás, seguem dessa maneira enquanto estão entre nós e deixam uma grande herança. Prometem amar para sempre.
As lágrimas insistem em impedir esses heróis de continuar a ler, sorrir, viver. Elas proveem de uma ferida ainda não cicatrizada, lembranças de certo espaço no tempo, episódios precoces, que os tornam personagens sem vida em sua própria historia, coadjuvantes da dor, autores de simples lamentos, apenas assinando os dias que passam sem sentido.


A dor recente mina a força, mas eles sabem que há muito a fazer. A guerra não acaba quando a flecha é lançada, mas sim quando acerta o alvo. Vencer tem mais a ver com estar livre do que acalentar prêmios. O anonimato dos que continuam é mais proveitoso do que o palco dos que se vitimizam. O futuro de solidão que preveem para si mesmo é ofuscado pela alegria de ainda ter uma chance de vida a cada dia. Aprendem enquanto sofrem e dão a isso o nome vida. Colocam o bem estar alheio na frente dos seus, isso sempre lhes pareceu um prazer muito íntimo, incompreensível aos demais, mas agora faz tanto sentido, pois os mantém de pé.

22 agosto 2013

Glória sem aplausos



“Um coração que almeja ser simples, um coração simples. Apegado a uma batida inexorável.” L.Ol.

Será que quando o meu sonho se realizar, acharei o suficiente?

Estive em minha mente, me imaginando com a coroa da vitória. Só que eu a senti pesada de mais, desejei algo diferente, algo de sabor simples. Quando atravessei a linha de chegada e a multidão me parabenizou, eu apenas sorri, como que com uma resposta pronta. Na verdade gostaria de continuar correndo, ainda não era a minha linha de chegada, não era onde gostaria de estar. Eu desejei algo diferente, algo de frescor singular.


No momento em que pisei na poça e os respingos atingiram o seu calcanhar, você não se concentrou na sensação fria, mas apenas olhou para mim. Isso tem um sabor simples. É o tipo de glória que se alcança sem aplausos.
Há um ponto da vida em que se você sonha muito, acaba não tendo tempo para estar acordado. Eu finalmente desejei sair por aí decidido a ver o que a vida poderia reservar para mim, não querendo provar de tudo, mas para ver se existe alguma coisa para desejar fora daquilo que conheço. Querendo algo para acrescentar à minha fé. 
Felicidade é algo que arranca sem esforço de você, um riso de honra, uma gargalhada ou um pequeno sorriso.

19 agosto 2013

Lágrimas



"Veja meu amigo, não somos tão diferentes. Eu poderia estar chorando a lágrima que hoje você derrama. Nossas mãos se encaixam tão bem. Vamos compartilhar um pouco mais." L.Ol.




Em adversos pontos da vida nos pegamos pensando no tempo, em tê-lo em nossas mãos, por vezes para fazê-lo parar, tendo assim a oportunidade de enxugar, dos olhos de quem amamos, toda lágrima que possa cair. Mesmo que não seja por nós, sendo ainda por algo inevitável. 


Mas o tempo não para, assim cada lágrima derramada torna mais claro o que há por vir, no entanto em meio a elas, há um caminho a se ver.
O tempo se arrasta quando as lágrimas insistem em cair. Se escutarmos o som delas, uma a uma gotejando no oceano, entendemos que cada um faz a sua parte para ter o mundo que espera, pois se fizéssemos tudo que sonhamos, mesmo sem nos importarmos que isso seja como uma gota no oceano, teríamos um mundo melhor.


Podemos ouvir as lágrimas que caem nas ondas selvagens do tempo. Para abandonarmos a crença que as ondas levam desejos e trazem desilusões. Olhemos além de nós mesmos para ver a grandeza do pássaro que reconstrói o seu ninho, mesmo após a tempestade, que veio ontem e amanhã voltará. Ainda há esperança, toda lágrima cai num oceano de esperança.


Esta foi uma tentativa de transformar uma poesia antiga em um texto. Boa tarde.