10 dezembro 2014

Heróis Comuns



Se encontraram em um cruzamento ao acaso, o único ponto da estrada que tinham em comum, cada um seguiria uma mão, caso se esbarrassem ou não, isso poderia continuar sendo apenas um acaso. Mas era um dia ímpar para dois, um par que se encontra ao acaso a todos os outros. Lembra-se daqueles sonhos bobos? Sim, onde uma palavra qualquer de repente ocasiona uma conversa reveladora de tom acolhedor... que dura...


Falavam sobre heróis comuns, que salvam do tédio pessoas comuns. Puderam salvar um ao outro então, tirando do comum o tipo de ação heroica que todos precisam. De repente não sentiam mais uma sensação que traziam a muito tempo, à sensação de gritar qualquer coisa de desespero ao mundo, pois perceberam que um sussurro ao ouvido certo acalma o desespero de um espírito jamais ouvido. Um sussurro tão vivo de expressão que dá corpo à ideias embaralhadas para que elas se sintam seguras de andar sozinhas.
Era estranho, pensavam: como ouvir uma música nova e reconhecer nela a si próprio como o autor, um improviso para uma dança com passos tão bem coreografados como nunca.
Traziam dúvidas que aguçam a mente, mas não àquelas que nos deixam desengonçados na avenida, o raro sabor de se sentir à vontade.
A essa altura já estavam em outra parte da cidade, dividindo o que nunca tiveram coragem: o mesmo prato, os sonhos mais pueris, um sede saciada tão raramente, a de se sentir à vontade como alguém quase estranho se não fosse tão familiar.
Não sei a essa altura o que cada um de vocês pensam sobre o tempo, mas para eles o tempo não corria mais, antes ele alcançava o ápice, como uma faca afiada para separar os que nunca se sentiram completos. Acho que todos nós podemos contar histórias sobre perdedores, todos nós podemos escrever historias sobre vencedores, eles puderam, e assim fazem os que se cruzam ‘ao acaso’.
Ela disse: é estranho como se sentir eterno, pessoas que sentem se eternos dentro de um único segundo. Ele disse: parece uma sensação como lançar charadas diante de uma circunstância fatal, brincar com uma agulha perto de um mero balão.

Pessoas comuns salvando pessoas do tédio. Divas diante da miséria humana, reconhecendo que devem olhar para algo além delas mesmas. Como se tudo que nunca fez sentido, convergissem mansamente para um único ponto.





12 novembro 2014

Galeria - Transitórios neste mundo




"Não podemos esquecer que como seres humanos somos apenas transitórios neste mundo. Portanto devemos considerar que em breve não ocuparemos o lugar que estamos hoje, sendo assim precisamos ter em mente que é preciso deixar este lugar melhor do que o recebemos, pensando na próxima pessoa que o ocupará.
Isto, entre outras coisas, inclui: o seu lugar no ônibus, o seu lugar na faculdade, o seu lugar na vida, o seu lugar no coração das pessoas." 

10 novembro 2014

Na esperança de ser amável


Respostas meu amor
Eu peço por favor
Na esperança de ser amável
Buscando o inexplicável

Eu só quero ser melhor
Te falando palavras doces
Me saciando do que você trouxe
Querendo compartilhar cada vez mais

Por vezes vivemos esmurrando o vento
Nos sentindo tão pequenos
Sem motivos para sorrir
Esperando o dia em que seremos felizes
Ele nunca chegará
Busquemos neste dia um motivo
O sol que brilha iluminará

A chuva que cai trará canção





30 outubro 2014

Galeria - O anonimato dos que continuam



Você poderá encontrar esse pensamento no seguinte texto O anonimato dos que continuam





14 outubro 2014

O compromisso das rosas



Teriam as rosas qualquer compromisso conosco?
Brotariam elas para fazer brindar o nosso dia?
Não somos nós que as arrancamos?
Brilha o sol em suas pétalas como testemunha

Perdeu-se o brilho do reflexo
Quando seu talo sem raiz é tomado por uma mão
Há um jardim agora estéril
Para povoar de rosas o corredor do salão

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(clique aqui)




09 outubro 2014

Reino de Espelhos



Senhores, este reino cujo fruto deliciam, já existia antes de chegarem, como numa semente jamais regada por qualquer um dos seus. Este reino tem uma história que merece ser contada e com toda certeza ampliada. Mas é uma história que tem sido ignorada, o que não surpreende alguns de nós, quando com olhos mais atentos vemos seus esforços para encobri-la.
Antes de mais nada, lembrem-se dos que já estiveram aqui: os fundadores do reino. Estes tem recebido o mesmo tratamento por parte dos senhores. Podem continuar neste exercício de memória? Nós os ajudaremos: existiam fotos de todos os pioneiros. Incrível, pois, elas tão bem ilustravam a história. Uma surpresa a menos, pois foram retiradas das paredes. Perdeu-se qualquer ligação entre a pedra fundamental e o chão de granito que os senhores pisam.


Os anos significativos chegam, os chamados jubileus. Os senhores resolveram comemorá-lo. Não tiveram escrúpulos ao promover suas imagens cheias de empáfia, bem como daqueles que os levaram a reinar, mencionando os pioneiros de maneira tímida como meros participantes casuais. Tudo parte de um plano para convencer a todos de um faccioso marco zero, porém fica sempre uma questão: seu luxo e sua riqueza flutuam, ou o reino está alicerçado numa base ignorada, para que os senhores não dividam a honra? Os senhores enterram a história, numa grande ironia pontuada por sorrisos forçados, pois ao invés de luto, fazem festas.
Sabemos bem que a historia raramente tem um ponto final. De alguma forma ela desbrava a vontade humana e continua. Os senhores estavam bem atentos a isto. Começou ai uma maneira de dividir aqueles que sabiam a verdade sobre o marco zero em pelo menos dois grupos: aliados e inimigos.
Os aliados são aqueles que embora soubessem a verdade, não tem maior apreço por ela, caso alguma vantagem possam adquirir do reino presente. Venderam a alma, o que para tais é foi preço barato.
Já os inimigos, alguns deles aliados por um tempo, descordaram de suas práticas, foram enviados de um lado para o outro do reino, perderam toda referência que tinham, se enfraqueceram, sendo assim fácil eliminá-los. Em meio a isso ficou notável a estratégia dos senhores em recolher informações sobres aliados e inimigos, para serem usados contra eles, num momento cuidadosamente escolhido para os interesses do ‘reino’.
Foi assim que os senhores estenderam o comprimento de seus braços, alcançando um reino ainda maior. Colonizaram todo aquele lugar à sua maneira. Convenciam a todos que podiam, que os senhores são escolhidos e santos, por seu pragmatismo. Com tanto riqueza acumulada puderam amenizar o calor, tornar os bancos da plateia mais confortáveis. Manipulavam com tanta maestria que fizeram quase todos acreditarem que seus palácios malditos eram banhados do ouro que lhes era devido, e não da soma de seus parcos centavos recolhidos. Alcançaram admiração à custa da ignorância.
O tempo passava, e ninguém mais ousava falar sobre a história. O que é estranho, pois o seu reino se assemelhava a um túmulo, com seu monumento erguido que antagoniza o que há em baixo. A identidade que os senhores quiseram para o reino, essa os senhores conseguiram, ou seja, nenhuma. Não existiam pedras lavradas, fotos amareladas, os herdeiros dos pioneiros não tinham lugar em vossas mesas. Outra surpresa a menos ao vê-los ignorando os talentosos, visionários, fraternos, de boa intenção e criativos; para simplesmente posicionar no reino pessoas de confiança.
Quando os senhores consideraram preciosas demais sua própria criação, foram rápidos em colocar bigodes postiços em seus filhos, para tentar dar-lhes uma autoridade artificial. Fizeram deles também senhores, com discursos inflamados sobre o solo que eles jamais haviam posto os pés. Os senhores conseguiram, foram muito bem sucedidos em espalhar espelhos pelo reino, cujo reflexo torna tão nítido o que os senhores são.

Muitos se deram conta da obra vergonhosa deste reino e se foram. Porém como reino não o consideram mais, antes sim, como uma prisão da qual hoje se sentem livres. E estão livres para viver para um Rei honroso, digno do reino que os senhores jamais conheceram.




03 outubro 2014

Galeria - Beleza que te esnoba



"A beleza que te esnoba, tem a futilidade que te repele." Leonard N. Oliveira





16 setembro 2014

Andrômeda


O reino da Etiópia tinha o Rei Cefeu e a Rainha Cassiopeia como soberanos. A filha deles Andrômeda transbordava de orgulho sua vaidosa mãe, Cassiopeia gabava-se aos quatro ventos o encanto dos traços de Andrômeda, orgulhava-se ao afirmar que a filha era a mais bela, inclusive com uma beleza maior do que as Nereidas. As Nereidas ninfas admiradas pela grande beleza também tinham um orgulho inflamado e foram se queixar a seu pai Nereu, este por sua vez era grande amigo de Poisedon, deus dos Mares.
Foi assim que o orgulho de Cassiopéia chegou a ouvidos poderosos. A amizade que ligava Nereu a Poisedon não permitiu que o deus agisse apenas como um companheiro que escuta uma queixa e consola quem lamenta.
Poseidon foi ao encontro de Cefeu e Cassiopeia. Não existiam mais desculpas, não havia como esconder o que foi dito, egos inflados aparecem ao longe. Poseidon foi direto e sentencioso, como qualquer um que tem grande poder: queria a vida de Andrômeda, ou toda Etiópia sofreria às custas da ousadia de Cassiopeia. O aviso tinha sido dado. O pavor seria a companhia de Cefeu e Cassiopeia nessa difícil decisão, escolher a filha ou todo o povo.


Foi impressionante, contudo a resolução dos pais de Andrômeda, não buscaram conciliação, não buscaram abrir mão do orgulho. Entregaram Andrômeda para o sacrifício. Ela foi acorrentada a um rochedo, esperando o monstro marinho enviado por Poisedon, mas Perseu derrotou o terrível monstro e resgatou a jovem princesa, levando-a consigo.
Muitas pessoas são como Cassiopeia, orgulhosas da atenção, elogios e status que os belos e valorosos podem lhe render. Tudo está bem até que o motivo do seu orgulho provoca inveja de poderosos. Porém quando sua posição é ameaçada, eles não sacrificam a si mesmo, não abrem mão de seu orgulho, antes infelizmente permitem que aqueles que tanto lhe deram alegrias sofram. Sacrificam a Andrômeda que se orgulhavam, mas nunca o ego inflamado.
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24 julho 2014

Linha do tempo



Era um daqueles dias de chuva, uma folga que caiu bem quando todos estão a trabalhar. Não haviam planos ou roteiros interessantes. Dan desceu até à garagem para pegar ou guardar qualquer coisa, lá havia um quadro branco, para se distrair começou a rabiscá-lo. Desenhava e apagava sem muito interesse, até que uma linha horizontal traçou, chamando-a de Linha do Tempo.
Tentou se encontrar nesta linha, estava no ano de 2006. Tinha se mudado a poucos meses para a nova casa. – hey espere – pensou. – fora em 2004 que tinha planejado se mudar. Sentiu-se bem, dois anos de economia que valeram a pena. Relembrou tantas coisas destes dois anos, o ‘jogo’ Linha do Tempo passou a ficar interessante, dizia a si mesmo.  Em 1996, seu pai o aconselhava buscar independência. – Filho, você precisa encontrar uma coisa que vá fazer a vida toda, se sustentar com isso, realizar seus projetos. Depois de resolver o que fazer, compre uma casa, algumas coisas irão se complicar com a idade, mas um lar simplifica muitas outras.



Um pulo de sete anos na frente. – Uau. Em 2003 seu pai faleceu. – Ele não pisou nesta casa, mas tenho certeza que confiava em mim. Parecia que a Linha do Tempo era rica em emoções também, olhos úmidos, quem diria, numa simples brincadeira. – Preciso sair de 2003, vou pensar em um número... 4... 1994. Alegria nas ruas, que felicidade, o Brasil tetra-campeão de futebol. Dan se lembrou de seu avô, havia uma espécie de promoção na época, juntava-se uma quantidade de embalagens de um produto que ele não lembrava, acrescentava-se a eles algum dinheiro e em troca você levava uma camisa verde e amarela. – Meu avô fez isso com tanto gosto, especialmente para mim.
Dan estava de volta a 2006, pensava em si mesmo como um céu estrelado. – Você olha para cima e fica perplexo com a quantidade de pontos luminosos, quanto mais olha, mais cada ponto ganha sentido, o céu quase por inteiro ganha sentido.
Era mais fácil se entender agora, valorizando alguns pontos de sua linha do tempo. – 1994, 1996, 2003, 2004... Cada um destes pontos iluminam tanto o meu 2006, quem sou hoje, o que valorizo!

Era realmente uma brincadeira fascinante a ‘Linha do Tempo’. Capaz de transportar alguém no tempo, fazer ligações entre lembranças perdidas. Alguns conhecimentos sobre nós estão no oceano como ilhas, mas pequenas faixas de areia ainda nos liga a elas, fazendo-as ainda parte do continente chamado ‘EU’. Dan viajou em sua linha do tempo, convidamos também você, caro leitor, a fazer o mesmo. Se as coisas ficarem muito tediosas, ou muito difíceis, pensem em um número.



19 junho 2014

Anônimo entre os meus

 

Me peguei pensando se meu nome não fosse este, embarquei numa viagem onde eu era um anônimo entre os meus. Vocês podem imaginar as perguntas que me vieram: Será que minha mãe me acolheria sem saber que eu vim dela. Pensamentos paradoxais onde eu me encontrava com meu grande amor e lhe diria: É um prazer te conhecer.


O que seria o meu mundo? Se ele jamais tivesse me visto, eu poderia chamá-lo de meu? Seria ele assim como conheço, se ele agora me recebe como um forasteiro.
Os livros que li, já não tem mais as marcas de meus dedos. A janela de onde seria o meu quarto tem um galho que a adentra, pertence à árvore que eu jamais podei.
Mas a mulher que seria minha mãe existe, a pessoa que seria meu amor existe, e até o quarto onde eu dormiria existe naquela casa. Eles são tudo que poderiam ser sem mim, mas não tudo que poderiam ser se eu existisse.
Pessoas completas pelo que são e incompletas pelo que não podem ser.

Que pena, uma exemplar de um livro clássico, jamais lido.




15 abril 2014

O Guardião - Olhar para o lado



(...)
- Foi um bom passeio Guardião.
- Sim Senhorita Nina, estamos nos tornando esportista de primeira. Disse Xavier entre risos.
- Ah, veja a hora. É tão cedo ainda, vamos andar devagar até a praça e tomar um sorvete.
- Sim.
Pouco tempo depois já estavam na praça.
- Veja Xavier, aquela Senhora. Está aqui todos os dias a pedir donativos. Diz que trabalha em uma instituição que cuida de jovens em risco social.
- O que acha você disso? – Perguntou ele.
- A princípio nada, por isso um dia lhe perguntei o seu nome, enquanto lhe dava alguma pequena contribuição.
- Ah, com sei que você não dá um ponto sem nó, posso apostar que empreendeu alguma investigação a respeito da tal moça.
- Na mosca, seu bobo, sim claro. Lançamos pequenas iscas caso não saibamos se no mar tem peixe. Ao passo que arriscamos mais se sabemos que o resultado vale a pena.
- Lembro-me desta frase.
- Sim, foi você que citou certa vez. A questão que pede resposta é: de fato não faço ideia se você sabe pescar, mas de qualquer maneira descobri que a moça falava a verdade. Encontrei a tal instituição e seu nome estava entre os fundadores.
- A instituição por sua vez deve fazer um trabalho sério, imagino.
- Sim, para meu alívio ao pensar em minhas moedinhas doadas, sim.
- Infelizmente vim sem minha carteira, fiquei entusiasmado com a possibilidade. E...
- Shi... shi... olha lá Xavier, a pobrezinha sendo tratada com grosseria por mais um transeunte, vida dura... não?
- Se tivéssemos algo para dar a ela, talvez a consolasse, além de dar alguma motivação para fazê-la voltar amanha.
- Acho que no caso, o fato de não podermos ajudá-la é uma incapacidade nossa. Mas e quem pode e não ajuda, o que é?
- A mesma coisa.
- Como é?
- Sim, também uma incapacidade. A incapacidade de olhar para o lado.
- Venha, você me deu uma ideia...
- O quê?
- Vamos lhe doar as moedinhas do sorvete, e um pouco da nossa atenção, saber de sua história.
- Mais uma vez você ocupando um capítulo inteiro de um livro, senhorita Nina. Sim vamos, estou logo atrás de você.

- Bobo como sempre Xavier. Vamos logo, quero tentar pegar o semblante dela ainda não tão caído...

Leia também mais sobre Nina e Xavier em O Guardião, a primeira história deles em 'Um lugar para estar'. Obrigado, caro leitor!



08 abril 2014

Parede de fotos



Enfim em casa, pensava Humberto. Estava cansado, consumido pelo dia. Entretanto ao entrar, não acreditava no que via: o melhor amigo sentado cabisbaixo ao lado do telefone. Era a mesma posição em que o deixou de manha, ao se despedir.
- Cara, já estou preocupado com você, a espera de um telefonema que nunca toca.
Nuno, que é como se chama o amigo de Humberto, levantou-se e foi tomar banho, com alguém em casa não havia perigo de se perder uma ligação, ponderava entre si.
Humberto estava realmente começando a ficar aflito pelo amigo, enquanto refletia, voltou-se para uma das paredes da sala onde haviam vários quadros com as fotografias premiadas de Nuno, que era fotografo. Seu trabalho é baseado principalmente em expressões faciais, sempre gostou de captar o semblante de uma pessoa ao satisfazer-se com algo, além de tantas outras formas de expressões. Era espantoso, ponderava Humberto, um jovem tão bem sucedido financeira e profissionalmente, passar os dias a espera de um telefonema.
Nuno lhe contou que certa vez passou uma semana com um modelo. Eram os primeiros tempos como profissional. A sessão de fotos durou tanto assim por um simples fato: o modelo não sabia do que mais gostava na vida, sempre foi muito pobre, pouco havia experimentado entre variações de cores, sabores e aromas. Foi uma sessão rica em expressões realizadoras. De balas de café a cappuccinos, cheiro do hortifrúti local à perfumes caros. Era a expressão de uma criança recém-nascida descobrindo o mundo no rosto de um adulto de sensibilidade imatura.
Realmente, Nuno sempre foi paciente. Para a expressão facial perfeita, investia dinheiro e tempo. Ele sempre esteve à espera de algo como agora. Lá estava ele, tinha acabado de estender a toalha molhada, estava de volta ao mesmo lugar ao lado do telefone.
- Sabe Nuno, estava aqui me lembrando da vez em que você esperou quase uma semana por uma expressão facial do seu agrado.
Nuno sorriu, sem encarar Humberto, com um daqueles sorrisos particular de uma glória sem aplausos. Motivado pela sua grande paixão, expressões faciais, ele finalmente disse algo:
- Tive uma grande sorte meu amigo, encontrar um belo modelo tão pueril em seus gestos.
- Parece que você lhe apresentou um novo mundo.
- Novas possibilidades eu diria, o resto foi com ele.
- Quem sabe a vida deva ser assim.
- Assim?
- Sim. Fazer nossa parte e esperar do outro apenas o que ele pode oferecer.
- É, quem sabe...

No dia seguinte. Humberto chegou a casa no mesmo horário e não encontrou Nuno. Havia um recado na geladeira que dizia:

Humberto meu amigo,

resolvi aceitar uma proposta de trabalho, viajo hoje mesmo. Quanto àquela ligação, haha... eu mesmo liguei e disse que não mais esperaria, creio que foi uma maneira de dar um ponto final. Não estou completamente feliz, mas bem aliviado. Te ligarei logo que puder.
Grande abraço. Nuno.

O telefone desta vez não demorou muito a tocar, os amigos se falaram por cerca de uma hora. Nuno parecia mais resignado e disposto, para alegria de Humberto. Combinaram uma programação para o próximo feriado, se despediram.
Ao desligar, Humberto notou uma nova foto em um dos quadros. Era do próprio Nuno sorrindo ao olhar em suas mãos uma das fotos de seu trabalho. Parecia estar particularmente satisfeita com ela.
-É. Começou a falar sozinho. – Parece que dentre todos os sorrisos, as considerações, os elogios, telefonemas, bens e afins; a felicidade só depende de nós, hoje. Não do amor que vai chegar, do sonho que vai se realizar ou da pessoa que vamos nos tornar.
O telefone tocou novamente. Humberto atendeu:
-Alo?
-Alo Humberto, chama o Nuno, por favor.
Tarde demais, pensava Humberto.

- Ele está viajando...



18 março 2014

Por todos nós



Imagine um mundo perfeito, através dos olhos de uma criança. Sinceros os seus olhos desenham um horizonte. Que ideia original nasceria, um lugar para mirar. Oh quão novo é o cotidiano em olhos inventivos.
Estalo de palmas se confunde com a chuva a cair, quase esqueci que esse som serve para muitas coisas. Eu o usei para motivar meus passos, assim eles pareciam acompanhados. Quando olhei em volta, muitos convergiam a um ponto onde palmas animavam passos.
Hoje sei que um mundo melhor, depende daqueles que convergem (juntos).


Este som é uma loucura, quando vemos tantos outros também em curso. Eu acreditava que precisava dar o primeiro passo acompanhado. Socos no vento, pedras que não se movem. Nos desgastamos tanto, querendo mudar a realidade em que estamos.
Temos que resgatar aquele olhar, ao menos para nosso mundo possível. Foi em curso que eu me encontrei, acompanhado. Contra o vento, contra o ego, contra todo significado vazio e pessoal. Que não ouve aquele chamado continuo: venha comigo, sacrifique o seu 'eu', por todos nós.
Hoje sei que um mundo melhor, depende daqueles que convergem (juntos).
Muitos estão presos a pessoas que são como âncoras, a deriva e acreditam que sozinhas podem carregá-las. Foi quando percebi que existem outras, que como velas nos impulsionam a navegar, sair do lugar.
Mas vou lhes dizer, que somente em curso encontrei tal pessoa.

Hoje sei que um mundo melhor, depende daqueles que convergem (juntos).




15 março 2014

Estragos e transformações




          Venha, você pode sentir a fúria do vento. Não conseguimos parar de notar o quanto ele leva, mas nos traz também a resposta para a pergunta, do que está fincado.
Da mesma maneira são os saltos do tempo. Parece que num salto, chegamos onde estamos. Lembramos daquele dia então, que nos perguntávamos, o que temos fincado.


Continue por aqui, para sentir essa tal fúria do vento. É maravilhoso perceber o que ele traz ao passo que leva também a dúvida, do que está fincado.
E se ele sopra aqui, é porque acredita em nosso movimento. O que é o sopro do vento? Se não a prova do indomável, que não se curva a essa mesmice cotidiana.
Confesso que não sei se o vento tem essa fúria. Já não sei se ele sopra assoviando ou gritando. Apenas percebo agora, que temos medido as mudanças, pelos estragos e não pelas transformações.




17 fevereiro 2014

Uma maneira de chegar à noite




Josy é uma menina de hábitos que você talvez goste, mas não deixe que ela perceba, pois ela faria tudo às avessas só para te irritar. Ela é mesmo fascinante, gosta de experimentar, compra pelo menos uma novidade no mercado a cada mês, mas nunca se esquece de levar junto no carrinho guloseimas e ‘gordices’.



É do tipo de pessoa que tenta desenhar um novo trajeto todos os dias para alcançar a noite, desinteressada da opinião alheia para seu atos,(lá vêm a louquinha... que garota sem jeito...) costuma trocar os pés enquanto anda e cantar músicas criadas na hora sempre que não pode mudar mais nada.
Nunca deixou de oferecer suas guloseimas às crianças da rua, por vezes deixava pacotes inteiros com elas, sem provar um doce sequer, mas não deixe que ela perceba que você a admirou... ela é uma garota que não conta o bem que faz nem a si mesma.
Mas talvez o tempo corra mais rápido para quem experimenta o sabor do dia novo, sem medo que ele seja amargo, tem pessoas que aprendem a adoçá-lo, temperá-lo.
Josy teve um dia que crescer, experimentar muitas coisas que a desagradavam, coisas que insistiam em fazê-la anônima na multidão. Usar as mangas na altura certa, não podia mais sujar os cotovelos, se sentia presa em algemas... seus braços não tinham mais o mesmo alcance. Que fase aborrecida pensava ela.
Josy não traçava mais caminhos novos para suas noites, virava sempre na mesma esquina, não podia se cansar de mais, não podia se atrasar. Encontrou um mundo em que até a respiração é contada por minuto.
Num entardecer estava na rua, havia acabado de chover, ela lembrou que adorava pular poças, não pôde deixar de trocar os pés assim. Mesmo em meio as nuvens o sol se punha, num brilho alaranjado e vermelho à frente de um fundo cinza e amarelo. Achou lindo e olhou pro lado, como um cinéfilo que tenta ver a reação dos outros ao assistirem um grande filme, porém as pessoas apenas desviavam das poças, olhos fitos para baixo. Viu que aquela beleza era só sua, pelo menos naquele quarteirão. Chocou-se: chovia ouro que caia só em seus bolsos.

Questionava-se da existência da beleza que ninguém nota. Sabia que naquele mesmo horário no dia seguinte, veria uma nova beleza, novas formas e cores, talvez mais amarelo e menos cinza, um pouco mais tarde um vermelho que se torna roxo, entregando-se ao azul quase negro da noite escura...
Viu-se adulta, mas capaz de tocar novamente seu íntimo, percebeu que não devemos crescer tanto, pois quanto maiores somos, maior é a nossa dificuldades de alcançar o centro, de rever nosso âmago. Tudo isso percebeu quando olhou uma obra prima cotidiana, ignorada pelos crescidos que são incapazes de pular poças, enquanto erguem os olhos ao céu que ainda não escureceu. Voltou pouco a pouco a não dar tanta atenção ao que os outros pensam, a compartilhar guloseimas, a andar trocando passos, fazendo seu próprio caminho. Era mesmo louquinha, uma menina sem jeito. Afinal ela é o tipo de pessoa que interessa ao criador de obras primas cotidianas.

Ah, passos trocados ainda a levavam à noite e isso era tudo que importava...


10 fevereiro 2014

O Guardião


- Vamos Xavier é por aqui!
- Sim senhorita Nina, estou procurando me apressar.
- Você não é mais o mesmo, meu amigo.
- Compenso o vigor que perdi, com uma paciência quase indestrutível que adquiri.
- Graças a mim é claro. Cansou-se de tanto me acompanhar em minhas aventuras. E construiu essa paciência inabalável por tolerar minhas loucuras cotidianas.
- Não nego que estar contigo, por tantos anos, foi responsável por quem sou hoje. E bem sabes que sou agradecido, sempre agradecido.
- Bobo como sempre, isso sim Xavier. Alias, tenho uma pergunta: Quem é mais apto para discernir mudanças num outro alguém? Uma pessoa que acompanha alguém crescer como você. Ou a que vê outro envelhecer como eu?



- Antes de mais nada, tenha cuidado com estes galhos no chão. O terreno aqui é bem acidentado, podem estar podres.
- Ah sim, sim, você são meus olhos caro amigo, meus olhos! Agora me responda.
- Bem, creio que essa seja uma de suas perguntas que ocupariam um capítulo inteiro de um livro. Acredito que alguém como você vê minhas mudanças voltadas em sua maioria para o pequeno ser que acompanha, evoluindo a cada dia. Enquanto eu vejo alguém mudando em direção ao deslumbre que o mundo provoca.
- Explique-me melhor isso Xavier, antes que minha mente saia voando.
- Ah sim, vamos tentar... quando vemos alguém nascendo, nosso mundo diminui e se concentra naquela pessoinha, em como evolui, seus passos que se aceleram em corridas, mas para aquele pequeno ser é diferente: o mundo começa pequeno e cresce pouco a pouco. Vi em você uma mudança de quem faz de cada descoberta, pessoa que conhece, cada coisa que aprende, numa ampliação do próprio mundo.
- Então você quer dizer que meu mundo aumentou e o seu diminuiu?
- É o que acontece quando crescemos. Não é nada físico, você bem sabe, é aqui dentro senhorita, no coração.
- Por essas coisas meu amigo que te chamo de guardião. Você vê o mundo assim pequeno em cada detalhe, consegue perceber os perigos e me mostrar o caminho, como fez com os galhos. Eu pelo contrário, ainda tão desajeitada, faço perguntas, imagino, sonho e quase me sufoco em tantas novidades que mal posso detalhar.
- Conviver é assim mesmo Nina, é a maior riqueza que se pode construir. Cada um trazendo o melhor de si, numa doação incapaz de nos empobrecer. Hoje te guardo de tropeçar em galhos enquanto não achas tempo para contar os próprios passos, da mesma maneira que a senhorita me guarda de olhar demasiadamente para trás e contar minhas pegadas até aqui.
- Você diz que minhas perguntas ocupariam um capítulo inteiro. E suas respostas então, o que me diz? Sim, argumentos para tantos outros. Acho que no final é mais do que perceber mudanças, mas provocá-las... Sabe, gostaria de ir mais devagar agora, o que acha?
- Não posso evitar rir, senhorita. Será minha chance de conduzir a conversa?
- Bobo como sempre Xavier, bobo como sempre!

Leiam mais uma história sobre Nina e Xavier em O Guardião - Olhar para o lado




21 janeiro 2014

A vida e seus refrões



A vida e seus refrões, o modo como tudo se repete. Esperávamos por algo novo quando tudo que temos é familiar.
A vida e seus refrões, em cada atitude que continua a mesma, a surpresa é ainda haver decepção.
A vida sem plural de quem só a conjuga no singular; ainda um refrão sem sentido, pois paramos de pensar sobre ele.


Devemos pensar nas razões que nos fazem repetir os nossos passos. Existem músicas que tocam tanto e dentro delas palavras que perderam o encanto... ditas, reditas, sem vida... assim dormentes quando ouvidas.
A vida e seus refrões. Grãos que puseram num saco, tantos que o fizeram pesado. Carregamos a mesma coisa por tanto tempo... sentimos, não sentimos mais... nos arrependemos.



A vida e seus refrões, a pureza daquilo que é só, um gosto onde não há graça, pois não há gosto.




18 janeiro 2014

Um mundo de possibilidades

Não me parece certo arrancar uma lágrima à força de alguém. Não sei até onde enxergo, mas se vejo, vejo um mundo de possibilidades. Caminhos de esperança, nos olhos daqueles que com fé me perguntam o que fazer...

Quando não se tem ninguém ao lado
Quando o vazio se preenche com sombras do passado
Quando as mãos só tem uma a outra de companhia
Quando tudo que é familiar, só nos faz desejar uma amanhecer ensolarado e uma sombra para contemplar todos os reflexos em paz...

Vejo um mundo de possibilidades, percebemos nossos anseios e dúvidas refletidas nas obras dos poetas que se foram. Encontramos tudo que procuramos nas folhas que folheiam os ventos.
Não é uma surpresa quando nossos olhos atentos buscam uma palavra, buscando Você.
Um mundo de possibilidades através de olhos. E através deles vemos além de ‘uma profunda esperança’, mergulhamos um pouco mais neste convite para encontrar a alma, contato indescritível que nos faz sentir assim tão mais próximos.

Eu sei que me sentirei seguro
Agora que sei encontrar nas fendas de luz, um rumo


            Tudo que busco, busco pela minha falta de Deus. Tudo que vejo, somente enxergo por hoje olhar bem menos para mim.
Não restam mais folhas para o vento folhear. Eu vejo um mundo de possibilidades: Deus!



11 janeiro 2014

Os sábios não fingem

"No jardim da vida, o velho e o novo se contrasteiam, como a flor que murcha e a que brota. Uma se abaixa com a certeza dos dias, pois vê sua raiz. A outra com o vigor se sente insegura, pois é grande a imensidão que aprecia. L.Ol."


O avô foi apressadamente em direção ao neto, assim que percebeu que ele tinha caído enquanto brincava, ao chegar até a criança percebeu que ela escondia o rosto. O avô que já havia notado o orgulho do neto, usou de uma voz afetuosa porém firme, afirmando que ele não precisava fazer aquilo, afinal uma lágrima é tão suave que pode ser capaz de escorrer entre os dedos.
O menino era do tipo que enxugava as próprias lágrimas enquanto fingia recolher ciscos dos olhos. Levantou-se ensaiando um sorriso, assegurou que não era nada.
Mas era muito sábio o avô daquela criança, pois sabia que quem esconde uma fraqueza não está muito distante de quem encoberta um erro. O orgulho toma pelas mãos a ambos e os convence de seu tortuoso caminho, usando por vezes de tal persuasão que eles são capazes de ver esta trilha sinuosa de maneira reta.
Por isto, sentou-se com o pequeno e lhe mostrou um espelho que tinham por perto. Tentou lhe fazer ver que a imagem da tristeza pode evaporar rapidamente, mas fingir que uma lágrima não foi provocada por dor, mas por qualquer arranhão que vento possa trazer é em suma fingir. Os que fingem não importando o motivo usam do que é falso. Alegorias, mentiras e máscaras. Uma máscara mesmo que perfeita sempre poderá ser notada. E assim é sentenciada por quem vê: falsa.


O ancião continuou conversando com o neto lhe dizendo que não podemos viver a vida contornando erros ou fraquezas, ao invés de assumi-los, pois eles sempre estarão ao nosso redor, esperando para serem admitidos ou encobertos. Ao serem encobertos, aparecem as mentiras, as alegorias e as máscaras, nunca perfeitas o bastante, remendas e re-remendadas.



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